Março...
LUZ

Entardecer. luz azulada numa casa de sonho, voz amarela, mala verde, boca enorme que aconchega, mão-caixa na esquerda, movimento da mão direita indeciso, voraz. as coisas caem, entram e saem, vão para fora quando vão para dentro. início, repouso da tarde, escurecimento da rua, luz teatral, macia, corpo andrógeno, ao encontro da personagem, ator em manchas, ajuntamento, ajuntamento de coisas que se afastam, caem, livro verde caiu antes de cair, objetos que desejam se encontrar, descolam-se da mão. voz flutuante, acompanhar, fala amiga, lugares que se mesclam.

PEDRO

À procura da escuta enquanto escuta, entre a perdição e a aceitação. Acolhimento. Questões e questões, questões da questão das questões. Vislumbramentos de coisas, do encontro, desejo do desejo. Iluminação mágica do estúdio. Ar, presença dos braços sólidos, dúvidas das formas do corpo. Receio confiante da perdição. O espaço presente acolhe, acolhe. Escuta do acolhimento. O que procura? Encontro consigo mesmo? Atravessa, torpe. o que faz? o que está a fazer? o que pergunta? que coisas são estas? Ao encontro com espaço? Presenças silenciosas? presenças que perscrutam, estar com as pessoas e o espaço. A música delicada sustenta, acompanha, não se escuta, vai e vem. Guia a algo? ao não sei quê? ao desejo de não sei quê?
A mão esquerda encontra a direita, memória de outra atenção no curso dos trânsitos da atenção.
O telemóvel pousa no banco vazio de pele, ampliação da música.
Atravessa os corpos semelhantes, não quer provocar, desejo de atravessar, cuidado com as idéias! escuta, escuta, onde está? o que é a escuta?
Esta coisa entra no espaço branco com maior frequência de danças.
Encontra-se com chão parede, sente uma vibração limpa e sincera, magia. Volta a perder-se, dança ao lado das danças, aparecem contactos de mão parede, abraço do espaço, amor, ternura pelo espaço e do espaço por si, sente comoção, beija a parede. como ama este lugar ao encontro do amor entre, o chão é parede, parede chão, mão e chão movimento surpreendente, beijos de amor, de fusão, de siceridade, espanto, corpo íntimo, intimidade com os movimentos, perde-se, não adentra, não sabe o que o corpo descobre? prepara-se para terminar, agradece a revelação e dança ao lado de algo, entra e saí. Algo que não pode ter nome, o mental não encontra nomes. volta agradece a tencibilidade possível do que vê. Aceita e não-aceita, sempre irresolúvel. Olhos cheios de lágrimas que não caem, Olhos húmidos ao coração quente e terno, calor de choro, consideração pelas presenças, não me conhecem, não me conheço, choro comovido em suspensão, areias e outras histórias.

PATRÍCIA

Doçura da voz, presença doce, cabelos cinza, óculos, contador de histórias, voz que se enleia em palavras, pontuando o espaço quatro vezes, senta-se ao meu lado direito, presença doce, jovem, de cabelos cinza, lentes, texto papel, as palavras saem da boca, brancura do espaço, luz branca, círculo, centro periférico.
bordados, tear, crianças. Feed-back, conversa, falas, falas, acolhimento do texto. Tecidos, algodão cinza, castanhos, pretos, amarelos.

SOFIA

Vulnerabilidade, algures na dança e não-dança, olhar de criança, corpo diferente, outro corpo, cabelos cinza macios pouco balouçantes, curvas, pontas, dedos, a pele, a gola alta, pele preta, entre o brilho e o não-brilho, tecer, lânguida, doce, brincar, triste, adentrar emoções, proximidade com lugares delicados, sensíveis, íntimos.

MARGARIDA

Cabelos longuíssimos, corpo de mulher, olhos verdes água, olhantes, dedos vibrantes finíssimos longos, pernas em z, rotação por baixo das folhas quadrados, quadrados perfeitos, quadrados brancos. Papel que vibra os dedos, dedos que vibram o papel, vibração que se faz som, som de tambores. Corpo antigo, pele clara, pele preta, rosas. vestes escuras, espirais por baixo das folhas, pontas de sombra nos papéis, contacto, pés finos, planos altos, planos baixos, planos por baixo do baixo. olhar aberto, os olhos, as mãos. as folhas conversam. espirais e contração do espaço no final, como que um segredo.
FEEDBACKS por Pedro Domingos:
EU SOU O TEMPO

Eu Sou o Tempo.
Trago água e anjos de penas, dádivas.
Tudo cá dentro, reflexos e espelhos. Dádivas.
Corpos dançantes, melodias e sons vibrantes.

Movem-se.

Move o fogo, a labareda que aquece e espalha o próprio movimento.
Move a terra e as conchas, os búzios e essas areias com o vento. O ar, e mensagens que
abarcam os anjos de penas, as miragens que são sabor, os cânticos que são das rajadas
de vento entre a duna e os tecidos do corpo.

Sou tempo ancestral, e futuro. Sou o que vai ser sendo, e fui ao ser-fazer. Sou Tempo do
Agora, alinhamento do que penso, digo e faço.
Sou o espaço meditativo entre 2 tempos agitados, sou o tempo activo entre 2 espaços que
viveram se-parados, paredes que falam e terra que move, trovão que transporta a
mensagem do som, através da escuta outrora desatenta.

Sou quando o teu tempo atravessa o meu tempo, e o meu tempo atravessa o teu tempo.
Sou esse buraco de fechadura, uma direção em que somos missão.
Criamos o nosso tempo, que se assemelha a outro tempo, esquecido. Cuidamos e servimos
a noção de tempo. Como escovar o cabelo de uma criança por horas a fio, onde cada fio é
uma avó, e cada brilho de escovado é uma oliveira.

Faço do tempo uma noção-Deus, pois coloco um L e chamo-lhe Templo - é sagrado, é.
Mas é o que é, sem julgamento.
Somos a travessia nessa caminhada, um mar de ondas que embala o tempo, ás​​​​​​​ 6 horas
vive um ciclo, na sétima onda e ano descansa.

Como uma criança, escuto esse embalo, transporto os anjos de penas que pousam no areal
de muita antes rocha e pedra, de pequenos universos.
Uma viagem de avião, leva-nos a outro tempo - em pouco tempo vemos um aperto como
noção de tempo;

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2

Sou paz como medida temporal.
E se ponteiros de um relógio fossem essa frase?
E se ponteiros de um relógio fossem a palavra Paz?
E se todos os números fossem A Palavra?
Rodava em sentido relógio ou contra-relógio?
Teria som dos segundos ou um inspirar profundo e singular?

Patrícia Barata 05.12.2023